sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Confira entrevista exclusiva com o Pe. Erivan Primo

Foram anos de trabalho, de obras e ações na paróquia de São João Batista, em Cerro Corá. Um período de cumplicidade e de novas e grandes descobertas. Lembro-me de nosso povo acolhendo com o louvor o Pe. José Erivan Primo em nossa paróquia, no dia 03 de março de 2003. Foi uma festa bonita, uma das mais belas celebrações já vistas na matriz. Era o começo de uma história, a história de um padre e uma gente que precisava entender os preceitos da igreja e que descobriria que a verdadeira vida cristã não limitava-se apenas às missas de domingo.

O jovem padre, de semblante sempre tão sério e inabalável, completa 12 anos de sacerdócio, 8 deles dedicados á comunidade de Cerro Corá. Em janeiro, ele deixará a cidade e assumirá uma nova missão no município de Jucurutu, na paróquia de São Sebastião.

Nosso blog entrevistou, nesta quinta-feira, o padre Erivan. Na conversa, o sacerdote falou dos desafios, das obras, das boas lembranças e das novas perspectivas.

Confira na íntegra:
Justificar
Blog: Foram quase 8 anos residindo em Cerro Corá, ou seja, um longo capítulo de uma história que será sempre lembrada, tanto por nós, cerrocoraenses, quanto pelo senhor, acredito. Qual o seu sentimento agora que deixará o município?

Padre: "O meu sentimento é de dever cumprido. Nós devemos sempre olhar a história que fazemos de uma forma positiva, compreendendo que tudo aquilo que foi feito, foi o que pôde ser feito. Haveria infinitas possibilidades de se fazer mais, mas aquilo que a graça de Deus nos favoreceu e a nossa abertura a essa mesma graça, foi o que pudemos realizar durante esses quase oito anos que passei aqui na Paróquia de São João Batista".

Blog: O senhor foi um dos únicos padres a constituir morada fixa em Cerro Corá. Foi o padre das obras, digamos assim. Construiu e reformou capelas em todo o município e deixará a nossa matriz de cara nova, fora outras tantas ações que realizou em prol da igreja e da nossa comunidade católica. Lembro que algumas pessoas começaram a enxergar esse seu esforço em forma de pretensão política. Em algum momento o senhor cogitou a idéia de disputar algum cargo eletivo no município?

Padre: "Absolutamente, não. A minha vida é a igreja e eu não trocaria a igreja por nada nesse mundo. Mesmo sendo o mais alto cargo político, isso não me seduz de maneira alguma. Absolutamente, nunca pensei em ter essa experiência política. Nunca me passou pela cabeça".

Blog: Quais os maiores desafios enfrentados durante o seu trabalho aqui na comunidade?

Padre: "O maior desafio não é somente aqui na paróquia e Cerro Corá, mas também, em qualquer parte da igreja, no Brasil ou no mundo. É o desafio de levar o evangelho a todas as pessoas. Nós sabemos que trabalhar com pessoas é difícil, porque na igreja se trabalha com voluntários, com pessoas que se dispõe a levar o evangelho á frente, a levar as ações da igreja à frente. Então, encontrar voluntários a essas ações é muito complicado. Tem que se ter muita paciência, tem que saber trabalhar, tem que ter uma consciência muito tranquila, sabendo que essas ações da igreja vão acontecendo de acordo com a graça de Deus na vida da própria igreja, na vida de cada pessoa de fé".

Blog: Como o senhor enxerga, ou avalia, a comunidade católica de Cerro Corá?

Padre: “A comunidade católica de Cerro Corá é uma comunidade boa, bonita, de um povo bom, um povo generoso. Agora, é preciso que se goste mais da igreja. Mas, isso é uma questão completamente compreensível. A paróquia de Cerro Corá tem mais de 50 anos, mas ainda não enraizou, não criou tradições como a tradição de igreja na grande maioria das famílias, aquela tradição verdadeira de fé, de amor á paróquia. Isso precisa ser alargado, levado ao maior número de famílias possível. Mas, isso é uma questão de tempo. O tempo é quem vai escrevendo, tornando essa história concreta".

Blog: O senhor sempre foi visto como um homem sério, muitos o chamavam até de antipático. Porém, as pessoas que convivem diretamente com o senhor, não o vêem dessa forma. Afinal, quem, ou como é, o Pe. Erivan Primo?

Padre: "Olha, eu sempre fui assim. Eu sou muito sincero comigo mesmo. O padre tem muitos meios de chegar às pessoas. Eu me apresento como José Erivan Primo. Essa sempre foi a minha cara. Eu não posso criar uma caricatura para agradar B ou C, eu prefiro ser aquilo que sou. As pessoas que gostam de mim, gostam como sou. Eu sou o tipo de pessoa que no primeiro contato ou se gosta ou não gosta. Eu sou eu mesmo, o meu jeito de ser é esse e sou tranquilo quanto a isso".

Blog: E como chegou à decisão de seguir a vida sacerdotal?

Padre: "A vocação é inexplicável. Eu nunca entendi como começou esse desejo de ser padre. Eu aprendi a compreender as coisas e comecei a identificar esse desejo. Essas coisas foram amadurecendo com o tempo, com a idade. A gente vai vendo e esclarecendo as nossas vontades. Agora, desde que me compreendi como gente, senti esse chamado. Desde sempre me encantei com o ser da pessoa do padre, isso já me seduzia de certa maneira".

Blog: Surgiram boatos na última semana de que muitos fiéis da nossa paróquia pretendiam realizar um abaixo-assinado em prol da sua permanência. O que pensa a respeito disso?

Padre: "A comunidade deve ter consciência de que hoje é muito bom para a pessoa do padre estar mudando de paróquia de seis em seis anos, pois o trabalho de paróquia hoje é muito desgastante. Nós vivemos num mundo do descartável. As vezes a permanência de um padre durante muito tempo numa paróquia acaba cansando, tanto o padre, como a própria comunidade. É muito bom que haja esse rodízio, dessa forma se há a possibilidade de novas experiências. Eu já passei aqui até um certo tempo além do que deveria ter passado, e está na hora de vir uma nova experiência. Se a comunidade manifestou isso, acho que não vale muito a pena. O que vale mais a pena hoje, é partilhar as experiências, esperar por um novo padre. Não estou saindo daqui motivado por raiva, rancor ou por escândalos, estou saindo porque a igreja precisa de mim em outro lugar. Estou muito feliz por isso".

Blog: E haveria chances de o senhor voltar algum dia?

Padre: "Eu acho que não. A não ser que se faltem padres. Na possibilidade de não haver outros padres. Mas, em vista do número de padres que nós temos hoje, eu acho muito difícil voltar".

Blog: O senhor chegou a Cerro Corá e revolucionou a vida da nossa igreja. Digamos que conseguiu reacender a chama da fé no coração de muita gente e chamar as pessoas de volta á nossa igreja. Realizou também muitas obras e ações jamais vistas anteriormente. O senhor se sente orgulhoso por esse trabalho?

Padre: “Me sinto com a consciência tranquila. Essas coisas foram feitas, mas eram de minha obrigação como padre. Tudo que foi feito na paróquia, como as obras, por exemplo, foram feitas porque o povo ajudou. O grande mérito não está na minha própria ação, mas está nas pessoas da comunidade, que entenderam, que encontraram meios para crescer, e cresceram. Eu não tenho tanto mérito assim, o mérito é mais da comunidade”.

Blog: Vai sentir saudades padre?

Padre: “Saudade é impossível não ter. Mas o padre deve amar o lugar onde ele está. Eu não posso estar em Jucurutu com o coração em Cerro Corá. Eu tenho que estar em Jucurutu com a minha fé, com o meu coração em Jucurutu, porque será a minha casa, a minha paróquia, a que eu tenho que dar conta e fazer com que cresça. Para Cerro Corá virá outro coração aberto para amar Cerro Corá, para fazer com que os cerrocoraenses possam continuar o trabalho que já foi feito. O mistério da igreja é esse”.

Blog: Quais as melhores lembranças que levará do tempo em que viveu conosco?

Padre: “As festas de São João eram sempre uma ocasião bonita de se celebrar. O convívio com as pessoas, os passeios, as festas de capela, os colaboradores da igreja, muita gente boa que se dispôs a ajudar a paróquia, o clima tranquilo da cidade. Cerro Corá é uma das melhores cidades para se morar. Uma cidade onde o padre vive tranquilo, sem ver a igreja envolvida em confusões, como acontecem em outros municípios. Cerro Corá tem essa beleza”.

Blog: Que mensagem o senhor deixa ao povo cerrocoraense?

Padre: “Desejo que a paróquia cresça. Que tenha mais gente lutando por ela, para que a Boa Nova de Jesus chegue a todos os lugares. Só tenho sentimento de gratidão por Cerro Corá. Tive um contato muito profundo com a minha família, que é de Lagoa Nova. Minha família passou por um momento delicado há alguns anos com a morte de um dos meus irmãos, se eu não tivesse em Cerro Corá, teria sido muito complicado. Foi abençoado por Deus esse período que passei aqui. Me sinto bem, tranquilo, feliz por ter passado por Cerro Corá. Desejo a todos que cresçam na fé, que não desistam deste projeto bonito de igreja, de Jesus Cristo para a nossa vida”, finalizou.

Padre Erivan ainda informou que voltará ao município assim que encontre oportunidade.

Ainda não se tem certeza quanto ao sacerdote que assumirá a Paróquia de São João Batista, apesar de se comentar bastante o nome do Padre Welson, de Currais Novos. Por enquanto, o diácono Joanilson de Nóbrega coordenará as atividades na igreja.

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